O futuro incerto dos LMSs

A experiência educacional, o protagonismo e a integração do trabalho com a aprendizagem vêm substituindo a necessidade por controles. Estão os LMSs preparados?

Numa era de profundas transformações promovidas pelo avanço de novas tecnologias, o mercado de plataformas educacionais também vê muitos desafios surgindo no horizonte. E como não poderia deixar de ser, as tradicionais plataformas LMS, que num passado próximo foram o grande desafiante das metodologias tradicionais, agora também se veem pressionadas a entregar conhecidas promessas como promover a experiência, o protagonismo e a fluidez entre trabalho e aprendizagem.

Como em muitos outros mercados, startups de todo o mundo surgem com soluções mais flexíveis, capazes de conectar o aluno com conteúdos e redes, oferecer e até prever suas necessidades.

Por outro lado, os LMSs dependem de diversos processos burocráticos de validação e publicação de conteúdo e, a maioria, ainda está presa a protocolos de comunicação muito antiquados, como o famoso padrão scorm. Enquanto os profissionais de educação corporativa percorrem todos os processos necessários para produção e publicação de conteúdos que sejam compatíveis com suas plataformas, seus alunos já teriam buscado, acessado e consumido os conteúdos que precisam em outras fontes.

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Faço aqui uma analogia: os LMSs caminham para se tornar a “Blockbuster” do mercado de educação. E essa comparação pode ser entendida em três aspectos:

1) como grande rede, a Blockbuster praticamente aniquilou as locadoras de bairro;

2) os clientes da Blockbuster tinham acesso apenas a uma oferta homogênea de títulos escolhidos de acordo com a popularidade, com pouquíssimo espaço para títulos alternativos; e

3) a Blockbuster, por sua vez, foi aniquilada por competidores que entenderam melhor os desejos e necessidades de seus clientes, como Netflix e Youtube.

Da mesma forma, os LMSs revolucionaram o mercado de educação quando surgiram e oferecem apenas títulos selecionados por um pequeno grupo para os diversos públicos dentro da organização. O próximo capítulo ainda está para ser escrito, mas muita coisa precisa mudar para que essa história tenha um final diferente do da Blockbuster.

O fato é que, com as atuais opções no mercado, se você vai iniciar hoje um projeto de educação corporativa, faz muito pouco sentido adotar um LMS tradicional.

 Controle x Experiência.

A justificativa mais comum para a adoção de um LMS é a necessidade de controle. Ou seja, a necessidade de o gestor de educação corporativa reportar à organização informações que dizem pouco, ou quase nada, sobre o quanto os colaboradores estão se desenvolvendo.

É uma ilusão acreditar que os números relacionados à participação, conclusão ou aprovação podem realmente dizer a uma organização que seus colaboradores estão de fato se desenvolvendo, ou seja, habilitando-se para novos níveis de desempenho ou se preparando para os desafios futuros.

Sendo esse controle uma ilusão, por que então insistir em um ambiente de educação que limita tanto as experiências educacionais? Os gestores que abrem mão desse controle abrem as portas para novas possibilidades para iniciativas que favorecem o acesso, o engajamento, a customização, a conexão e a colaboração que impulsionam os alunos em suas experiências e interações digitais.

Controle x Protagonismo.

Os LMSs tradicionais também jogam contra outro discurso presente em muitos projetos de educação corporativa: o Protagonismo do aluno. A questão do protagonismo está vinculada aos princípios fundamentais da andragogia e deve realmente ser estimulada.

Mas como falar de protagonismo quando as únicas iniciativas reconhecidas e validadas pela organização são aquelas previstas, publicadas e cobradas no LMS da empresa? Ou seja, aquela seleção de cursos ou atividades que alguém escolheu para os diversos grupos de funcionários? Isso porque o rígido controle oferecido pelos LMSs não permite reconhecer atividades realizadas em outros ambientes.

Assim, num LMS, o protagonismo se restringe a fazer ou deixar de fazer um curso ou trilha. No máximo, no ápice do protagonismo, um aluno poderia acessar um enorme catálogo de cursos, normalmente mais antigos.

É necessário reconhecer, no entanto, que, a despeito das limitações de uma plataforma, o cerceamento do protagonismo tem muita relação também com as práticas de educação corporativa.

Controle x Integração Trabalho e Aprendizagem.

Aqui está um verdadeiro desafio para as plataformas de aprendizagem, tanto para os tradicionais LMSs, quanto para as plataformas emergentes: esmaecer as fronteiras entre aprendizagem e trabalho.

Nos modelos atuais de controle propostos pelos LMSs, vinculados aos primeiros conceitos de treinamento e desenvolvimento, quando se achava uma boa ideia apartar os momentos e os ambientes de trabalho e aprendizagem, esses sistemas acabam se apresentando como ilhas no ecossistema empresarial. E por “ilha” quero dizer: uma porção de conteúdo cercada por barreiras de usabilidade por todos os lados.

Por todo o histórico e preconceitos já atribuídos a esses sistemas de aprendizagem, acredito que será mais fácil sistemas que apoiam atividades relacionadas ao trabalho ou à comunicação entre equipes oferecer oportunidades de desenvolvimento do que um LMS se integrar à rotina de trabalho.

Assim, acredito muito na possibilidade de um Slack, Workplace, Yammer, Trello etc incorporarem atividades e registros educacionais, no melhor estilo 70/20/10. Isso já pode acontecer hoje e, na verdade, já vem acontecendo (sem mais spoilers por hoje), mas exige que os gestores de educação corporativa abandonem antigos paradigmas e a necessidade de controles que dizem pouco sobre o desenvolvimento dos colaboradores e pensem na atividade educacional, na experiência, antes de pensar na ferramenta.

Mais sobre aprendizagem e tecnologia:

Nesta entrevista, Christa Manning (vice president of solution provider research for Bersin by Deloitte) fala sobre a evolução pela qual devem passar as plataformas voltadas à educação.

Neste post, eu falo mais sobre o desafio de colocar aprendizados em prática.

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